quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Participe do Movimento contra as Milícias no Brasil


A serpente saiu do ovo



Por Zuenir Ventura


Foi preciso um filme de sucesso, o "Tropa de elite 2", para o grande público descobrir que nos morros e periferia do Rio existia algo pior do que os traficantes: as milícias. Enquanto esse ovo de serpente vinha há anos sendo chocado, autoridades como o então prefeito Cesar Maia as elogiavam como "defesas comunitárias", "um mal menor". É bem verdade que ele não foi o único. O ex-capitão da PM Rodrigo Pimentel, que serviu de inspiração para o personagem do capitão Nascimento, acredita que "todo político que ocupou cargo no Executivo nos últimos dez anos de alguma forma interagiu com milicianos". Em entrevista ao site UOL, ele confessou: "Num primeiro momento, não só eu, mas outros policiais também entenderam as milícias como um 'mal necessário'." Poucos perceberam que elas não eram apenas um caso de polícia, mas de política.

Quem nunca se enganou foi o deputado Marcelo Freixo, graças ao qual foi instalada na Assembleia Legislativa a CPI que escancarou as ligações dessa organização mafiosa com os poderes constituídos. A iniciativa, que surgiu depois que repórteres do jornal "O Dia" foram sequestrados e barbaramente torturados por milicianos, contou com um serviço de disque-milícia que recebeu mais de 1.300 denúncias. O relatório final, aprovado por unanimidade, acusou mais de 200 pessoas — deputados e vereadores de vários partidos, policiais civis e militares, bombeiros, agentes penitenciários — e até o ex-chefe de Polícia Civil e ex-deputado estadual Álvaro Lins.

Freixo acabou tendo sua atuação reconhecida. Sem recursos, sem militância paga, ameaçado de morte o tempo todo, foi reeleito com a segunda maior votação do Rio. Além disso, figurou no "Tropa de elite 2" como se fosse o mocinho Diogo Fraga, embora isso não tivesse tido influência na sua votação, já que o filme foi lançado depois da eleição. Para ele, essa segunda aventura do agora tenente-coronel Nascimento teve o mérito de ampliar o debate da segurança pública, que estava restrito às UPPs. "As milícias continuam crescendo e operando dentro do estado. Elas são o verdadeiro crime organizado com projeto de poder."

De fato, como disse o antropólogo Luiz Eduardo Soares à repórter Karla Monteiro ontem, "o tráfico já era". Ficou o pior. Segundo ele, enquanto os traficantes são em geral jovens pobres que nunca saíram das favelas, os milicianos são "profissionais formados, treinados, com conhecimento técnico, com capacidade administrativa e financeira que se organizam para ocupar espaços políticos". Infiltradas no aparelho do Estado e difíceis de combater, extorquindo das comunidades milhões em serviços — gás, luz, TV, vans e drogas, claro — as milícias são, ao contrário do que se dizia, um mal maior.

Esse texto de Zuenir Ventura, publicado em O GLOBO, dá uma rápida visão desse mal que temos que enfrentar hoje, já,  em defesa da Vida e da Democracia, pois amanhã poderá ser tarde demais.


Clique aqui para participar do Movimento contra as Milícias no Brasil está  no Programa Causes e no BLOG Movimento contra as Milícias no Brasil, é de graça e você pode participar, divulgar e compartilhar.

Não custa nada e fará muita diferença.

Quando nada, estará lutando por sua liberdade, por seu amanhã, para que no Brasil não surjam cidades como Juarez no México, nem FARCs, como na Colômbia.

Nós, somos o Brasil!